terça-feira, 9 de outubro de 2012


Um filme de Hélder Chainho, a partir do seu trabalho de criação da personagem.

Personagem-Brinquedo - Making off


Making off da disciplina "Personagem Brinquedo" (orientada por Joaquim Paulo Nogueira) feito em 2012 pelos alunos da disciplina de "Cinema como intervenção terapêutica" (orientada por Raquel Castro), disciplinas de opção do Curso de Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.

As Personagens através do olhar de Sara Gomes


Aqui as imagens que Sara Gomes criou a partir do exercício final da disciplina de opção Personagem-Brinquedo. Trata-se de um momento em que os alunos terminam um trabalho de criação e composição de uma personagem que se traduz também num percurso de discussão sobre o que é isto de ser uma pessoa, como nos constituímos enquanto pessoas, como construímos a nossa identidade uns diante dos outros. E no último dia expandimos as explorações lúdicas e dramáticas da sala de aula para a rua e usufruímos da escola como um espaço de experimentação, interação e jogo. Uma acção que é também transformação sobre o espaço fisico e humano, esperamos, qualificando-o.

domingo, 8 de julho de 2012

Helena, em busca da felicidade...


O meu nome é Helena Santos e tenho 24 anos. Helena significa luz e quem escolheu o meu nome foi o meu pai que, desde que soube que a minha mãe estava grávida, sempre disse que eu ia ser o brilho da vida dele.
O meu pai chamava-se Alexandre Santos e teria agora 48 anos e a minha mãe chama-se Clara Santos e tem 46 anos. O meu pai trabalhava como empreiteiro e a minha mãe era secretária de um empresário.
Sempre fui muito ligada ao meu pai. Ele era diferente. A minha mãe sempre foi muito mais rígida e severa. Ainda hoje o é. Acho que está cada vez pior, para ser sincera. O meu pai, pelo contrário, sempre foi o mais brincalhão, o mais divertido. Quando eu era pequena, era sempre ele quem me encobria as asneiras e as parvoíces. Quando era adolescente era ele quem insistia para eu sair e estar com os meus amigos. Pela minha mãe eu nem saia de casa, mas ele convencia-a sempre.

Há dois anos atrás tudo teve que mudar. Tinha acabado o curso de engenharia bioquímica há pouco tempo e lembro-me que ia com ele no carro. Acho que íamos buscar a minha mãe ao emprego e não estávamos longe de casa. Não me lembro de como aquilo aconteceu, só me lembro de num momento estar a rir-me com o meu pai, já nem sei sobre o quê, e noutro momento já estarem dois bombeiros a tentar tirar-me do carro e a dizerem algo acerca de eu estar presa e de que ia ser complicado. Depois acho que perdi os sentidos.
Quando acordei novamente já estava a caminho do hospital. Já devia ser tarde pois estava escuro na rua. Desde o acidente até aquela hora deviam ter passado umas cinco horas. Quando perguntei pelo meu pai, disseram-me para não pensar nisso e que ele estava noutra ambulância. Eu tinha uma mascara de oxigénio na cara e sentia dores imensas na perna direita. Desconfiei que fosse o local onde eu tinha ficado presa. Olhei à minha volta e tentei concentrar-me em algo que me chamasse à atenção. Estava comigo uma enfermeira que me disse que me ia colocar soro por ordem do médico pois tinha perdido muito sangue. Ficou a tentar falar comigo, mas eu estava cansada e preocupada. Não conseguia responder muito bem e apenas acenava com a cabeça respostas de sim e não.
Quando cheguei ao hospital, o médico que me examinou disse-me que ia ter de ser operada. Nesta altura mal eu sabia que aquela não ia ser a única cirurgia que iria fazer.

Fui operada de urgência e quando acordei já a minha mãe estava lá ao pé. Tinha os olhos vermelhos e inchados. Neste aspecto somos muito parecidas. Ambas temos olhos castanhos-escuros e se chorarmos ficamos logo com eles vermelhos. Também os nossos cabelos são parecidos. Ambos castanhos e ondulados, ainda que o dela já esteja com alguns cabelos brancos que ela pinta para esconder. O meu também é mais comprido, pelo meio das costas.
Quando viu que já tinha acordado começou imediatamente a falar, a fazer todo o tipo de perguntas, perguntas às quais eu não conseguia responder, não me conseguia lembrar.
Quando perguntei pelo meu pai, não esperava obter aquela resposta. A minha mãe recomeça a chorar e diz-me o que eu não queria ouvir. O meu pai, aquele que sempre me apoiou, com quem eu brincava, o meu confidente, estava morto, tinha tido morte imediata quando batemos naquela árvore. Nesse momento lembrei-me de quando íamos no carro, algo se atravessar à frente do carro e nós irmos contra uma árvore. Quando soube desta notícia entrei em negação, não conseguia acreditar que o meu pai estava morto e que nunca mais o ia ver, nem falar com ele, nem rir-me com ele. É disso que sinto mais falta. Das brincadeiras, do riso.

Ao longo dos dias fui-me apercebendo cada vez mais da realidade. Fui encarando e aceitando a verdade. Quando sai do hospital, comecei a ser acompanhada por uma Psicóloga que me tem ajudado muito ao longo destes dois anos. Também já fui operada mais 3 vezes. Quando fiquei presa, para além de ter partido a tíbia, ainda perdi grande parte do músculo e por isso tenho andado a fazer tratamentos e fisioterapia. Actualmente vivo em Leião que fica em Paço d’Arcos mas eu vivia em Évora.
Mudamo-nos para cá para estar mais perto do hospital onde sou acompanhada que fica em Alcoitão.
Com isto, tive de deixar os meus amigos, estudei em Évora mas aqui não conheço ninguém e desde o acidente que a minha mãe se tornou ainda mais possessiva em relação a mim, nem me deixa ir ao jardim perto de casa.
Para me proteger acaba por me magoar ainda mais, é que como se já não bastasse ter perdido o meu pai e ter mudado de casa, ela ainda me trata como se fosse uma criança novamente.
Quando consigo sair sem ela dar por isso, vou até ao tal jardim. Gosto de estar junto ao lago mas tento afastar-me de locais com muitas árvores por causa das memórias que me trazem. Também gosto de ver as crianças a brincarem no parque infantil. Lembram-me a minha infância.
Mas principalmente gosto de conversar com as pessoas. Sou filha única e como cá não conheço praticamente ninguém nunca posso desabafar. Mas às vezes lá encontro alguém simpático que me ouve.
Nestas escapadinhas tento sempre pôr-me o mais bonita possível. O meu pai gostava imenso de me ver bem vestida e maquilhada, como já disse, ele era diferente.
Hoje em dia ainda não consegui superar a morte do meu pai, continuo à procura da felicidade que sentia com ele perto de mim e por isso costumo vestir roupa preta mas nunca me esqueço daqueles tons claros que me dão o brilho que ele tanto gostava. Também ando sempre com um conjunto que ele me deu, um colar, uma pulseira e um anel de prata. Foi a prenda que recebi depois de acabar o curso.
Ainda não me caracterizei mas tenho perto de 1,70m e peso cerca de 60Kg. A minha pele não é muito branca nem é morena, o meu cabelo é castanho, bem como os meus olhos, que, como já disse, são como os da minha mãe.
Quando me vêem na rua, ninguém diz o que se passou, tento sempre parecer bem, como se usasse uma mascara, mas quando estou sozinha tenho sempre um ar triste.

“Quem me dera voltar a sorrir como uma criança…”

Algo que eu e o meu pai partilhávamos era o gosto pela música e com ele havia uma especial. É de uma banda de rock, Os Metallica e a música chama-se Nothing Else Matters. Há uma parte dessa música muito importante para mim e que quando me sinto em baixo costumo cantarolar.

“So Close, no matter how far
Could be much more from the heart
Forever trust in who we are
And nothing else matters”

Esta música faz-me sempre sentir bem e ajuda-me a aumentar a minha auto-estima.

Há uns tempos disseram-me algo que me fez pensar. Disseram-me que eu era como um lobo, solitária mas amigável com alguns, olhar triste e vazio mas com um certo brilho de força e atitude. Em parte, acho que até têm alguma razão…

segunda-feira, 25 de junho de 2012

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Maria do Carmo, a Juíza


“23 de Abril de 1985,
 Maria do Carmo de Mello, no mundo do trabalho, ou Carminho para os amigos, é assim que sou conhecida. Tenho 30 anos, e nasci a 25 de Agosto de 1955, na freguesia do Campo Grande, Lisboa, a minha amada Capital. Sou filha de José Miguel de Mello e de Maria Luíza de Mello. O meu pai sempre foi conhecido como um grande autoritário, e um grande bancário, já a minha mãe sempre foi a sua sombra e seu grande pilar, mas nunca foi feliz, pois nunca conseguiu ser aquilo que queria, pois a sua paixão sempre foi escrever, mas por estar casada com o meu pai esse futuro sempre lhe fora vedado, e agora com 60 anos, e ao aproximar-se da morte, escreve todos os dias no seu diário, as palavras que já não menciona.
Eu como não quero um futuro assim para mim, aqui me encontro solteira com 30 anos, quando a minha mãe já era mãe pela segunda vez, e com um futuro na magistratura brilhante à minha frente, contudo não consigo ser completamente feliz.
Os meus pais sempre que quiseram dar a melhor educação, pelo que desde cedo frequentei o Colégio Moderno, e frequentei aulas de piano na casa de uma Madamme Russa, a Madame Savka. Foi aqui que eu comecei a aborrecer os meus pais, pois perto dos 14 anos, apaixonei-me pelo filho da Madame, o Peter! Ai, Peter, como tenho saudades tuas...
Este foi, é e será Sempre o Grande Amor da Minha Vida, nunca o esquecerei, e nunca me casarei com ninguém sem ser com ele. Mas voltando um pouco atrás e aos meus 14 anos, o meu pai pensando que era uma paixoneta de criança apesar de me proibir de namorar com ele, nunca me proibio de ir às lições de piano, o que fez com que eu continuasse a ver o Peter, e a apaixonar-me cada vez mais por si. Com 16 anos, o meu pai leva-me ao meu baile de debutante onde iria ter como par Filipe Espirito-Santo, o filho de um colega de meu pai, e com que ele me queria casar, contudo após o baile quando o Filipe se ia declarar, eu fugi para ir ter com o Peter, situação esta que o meu pai declarou como ofensiva e pouca digna de uma menina da minha classe. Após esta situação o meu pai proibiu-me de frequentar as aulas de piano, e nunca mais me deixou ver o Peter, contudo eu ainda conseguia falar com ele através de cartas que me eram entregues pela criada, contudo após o meu pai descobrir este esquema, despediu a empregada e nunca mais soube do Peter. Ai, ai...
       Dois anos depois, e ainda sem noticias do Peter, chegou a altura de decidir o meu futuro, e foi aqui que decidi dedicar-me ao trabalho e aos estudos a tempo inteiro, iria ser Juiza, para que pudesse ser justa e julgar os que cometiam crimes e desonestidades, tal como o meu pai me fizera..
       E assim ingressei na faculdade de Coimbra onde me graduei com média final de 17,5 valores, e voltei a Lisboa para trabalhar ainda com 24 anos.
       Seis anos depois aqui me encontro, a morar sozinha, num apartamento novo em Lisboa, finalmente independente dos meus pais, e procurando ansiosamente um Peter que não aparece, mas como eu sempre digo: Será Tarde? Não! Nunca é tarde!
Acabo por aqui a primeira página do meu diário, pois apesar de estar sozinha, sinto vontade de falar.
                                                      Volta Peter,
                                               Maria do Carmo de Mello.”

Beijamin "o nerd"


Óh EEEELLLLSSSAAAA!!!
Ah desculpem...estava só preocupado com a minha irmã.
Bem,estão ai para me ouvir? então aqui vai:

Chamo-me Beijamin Duarte Birrento Paiva, nasci a 25 de Novembro de 1997 e tenho 14 anos.  Nasci em Lisboa mas vivi com os meus pais em Sintra desde que me lembro. A minha mãe chamava-se Alice Birrento Paiva, tinha 45 anos e era professora primária e o meu pai chamava-se José Gil Paiva tinha 46 anos e era enfermeiro, o que me fez ganhar o fascinio pelo estudo em geral e pela saúde. Tenho ainda uma irmã mais velha, a Elsa, que tem dezanove anos. 
 Infelizmente á cerca de dois anos a minha família sofreu um acidente de viação e perdi os meus pais. 
Desde então muita coisa mudou na minha vida.
A minha irmã ficou paraplégica e eu com problemas na fala e um pouco nas pernas, por isso hoje  
em dia ando com os pés para fora.
 Saímos de Sintra depois da morte dos nossos pais e fomos morar com a nossa tia Benta que mora 
 nos Anjos, em Lisboa. Assumi o papel de homem da família e com apenas catorze anos sou responsável por muitas coisas lá em casa.
A verdade é que ainda tenho muito que aprender, por isso estou sempre a ler e a estudar para desenvolver a minha capacidade intelectual.
 Tomo conta da minha irmã que depende de mim, e assim passo os meus dias entre a escola, os livros e as responsabilidades que fui ganhando. Gostava de ter um pouco de tempo para brincar e fazer o que fazem os meninos da minha idade, mas tento ser feliz assim, e quero alcançar os meus objectivos para vir a ser um professor catedrático.
 
 Gostava de ter ude tempb

Xícara Da Luz Francês - Fevereiro de 2012


Livro II – Xícara Da Luz Francês
Foi assim que Maria Da Luz, veio conhecer a capital, prenha e sem marido. 
Quando chegou a casa de Américo Joaquim, não teve a vida fácil, seu irmão condenava-a e sua cunhada não a suportava, e por isso, decidiu sair a procura de uma patroa, para quem pudesse trabalhar e também viver. Não tardou muito essa procura, pois depressa encontrou uma patroa que viria a ser quase como sua segunda mãe.
Em casa dos Francês, Maria da Luz passou uma gravidez tranquila e sem percalços. Até ao dia vinte e dois de Novembro de mil novecentos e setenta e oito, quando disse para a sua patroa – “a nossa Xícara vai nascer”.
Xícara da Luz Francês. Foi sua madrinha, patroa de sua mãe que lhe escolheu o nome. Pois em sua casa não se usavam chávenas apenas xícaras, um real desatino para Maria da Luz aprender a palavra, nunca tinha ouvido tal coisa na sua terra, além disso soava muito chique ao pé das amigas, dizer que a sua afilhada chamava-se Xícara. O apelido também era o de seu padrinho, pois nunca tinha conhecido o seu pai, nem tão pouco sabia o seu nome. Apenas herdara Da Luz de sua mãe, pois quando nasceu tinha a pele lisa, cor-de-rosa e era a coisa mais brilhante que Maria da Luz já tinha visto.
Aos cinco anos, Xícara, já falava francês e português, já tocava piano, e tinha aulas de ballet. Mas o que a menina gostava mesmo eram os quadros expostos no escritório do padrinho.
Decidiram assim, os Francês, enviar a menina para estudar nas melhores escolas de Paris. Xícara voltava a Portugal sempre que o colégio lhe concedia pausas e os padrinhos faziam visitas regulares à sua afilhada. Foi crescendo sempre muito só mas como costumava dizer em cada pessoa via um amigo, tentava sempre e acima de tudo ser feliz com quem se cruzava e com quem mantinha contacto.
O seu traço mais característico era a busca incessante por tudo o que a fascina-se. Aliás coisa que fazia desde pequena. Nunca deixava ninguém se intrometer nisso. Recordava-se de sua mãe, proibir a entrada no escritório do padrinho para ver os belos matisses e picassos, nunca a conseguiu segurar por muito tempo. Para xícara o mundo não tinha preto, era repleto de cores, e apenas faltava luz em algumas partes, essa luz era a alegria e a felicidade que ela tentava transmitir com a sua cor.
Quando acabou o ensino básico, foi hora de escolher o percurso profissional, mas Xícara já o sabia há muito tempo, iria seguir design de moda. Esta escolha foi natural, pois desde sempre, seguia o hábito de sua madrinha, desenhar a sua própria roupa, juntando isso ao seu gosto pelas artes e pela cor, Xícara, e suas professoras concordaram, achou o caminho mais correcto a seguir.
Em 2003, com vinte e cinco anos, Xícara vivia intensamente tudo o que a rodeava, apaixonando-se por tudo o que via. Tinha terminado o curso haviam três meses e já tinha uma proposta de trabalho irrecusável em Paris, para desenhar uma colecção de jóias para a cadeia de joalharias mais importante da cidade. Xícara andava literalmente nas nuvens. É no meio deste estado de espírito, que Xícara recebe a notícia que sua mãe está muito doente e que sua madrinha pede para ela voltar para Portugal, para junto delas.
Sua mãe viria a falecer, decorridos dois meses da sua chegada a Portugal. Sua madrinha estava viúva, já para mais de sete anos, então Xícara decide ficar, e fazer companhia a esta mulher que se via sozinha, sem nunca o ter estado. É assim que prolonga a sua permanência por Portugal, decidida a que todos os lugares têm um encanto próprio, e que já se sentia a apaixonar-se por este país a beira-mar plantado.
As coisas negativas da vida não a marcam e rapidamente são coisas que esquece. Apercebe-se do rumo natural da vida e por isso não lhes dá importância. Assim decidi que seria uma cidadã do mundo e que quando sua madrinha falecesse, percorreria o mundo e apaixonar-se-ia por todos os sítios por onde passasse.
E é assim que Xícara passa os seus dias, a passear por Alvalade, a ver os jogos do Europeu, a Cantarolar a sua música com um sotaque francês, na sua busca incessante por algo que a inspire, para transmiti-lo no seu trabalho.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Fase da Infância  
A minha infância, penso que foi como de qualquer órfão, ou seja Todos aqueles que foram deixados sem cuidados dos pais: que foram deixados em maternidades, aqueles, que foram recusadas pelos pais vivos, crianças cujos pais perderam o pátrio poder, crianças, cujos pais são colocados em prisão, as crianças, cujos pais foram mortos ou muito doente, e está em tratamento a longo prazo em diversos hospitais, também tive alguns amigos órfãos, inválidos, excelentes amigos ate a adolescência todavia, por força do destino perdi contacto, pois crescemos e fomos cada um para seu lado.
Ate aos doze anos fomos a praia juntos e existia uma grande cumplicidade com o nosso colega órfão Tuti, pois se nós pensávamos que éramos infelizes o nosso colega dizia o contrario, como se não bastasse ser órfão ainda tinha uma deficiência na mobilidade. O nosso colega “deficiente” chamava-se Tuti, ele pensava ser descendente de italiano dai ter escolhido este nome para ele e não o que lhe puseram, Francisco, era o melhor amigo que se podia ter e para compensar fazíamos por ele algumas coisa que ele sozinho não conseguia. Como ajudar a vestir e despir, como andar de bicicleta, sentávamo-lo no meio e lá íamos nós ao sabor do vento. Perdi o contacto com ele, foi transferido para outra casa e perdemos por completo o contacto dele, ainda tenho esperança de o ver um dia.
Fase da Adolescência
Recordar os anos da minha juventude em Belém, casa pia, traz de volta lembranças esparsas e imagens complicadas. Dentre elas, porém, há alguns quadros completos que estão gravados profundamente em minha mente.
A escola tinha cerca trinta alunos, bem jovens e alguns um pouco mais velhos, por sala. O professor era um grande erudito. Estudávamos e estudávamos. Apesar disso, sob aquelas difíceis circunstâncias, todos adquirimos grande conhecimento.
Também aprendemos relojoaria, que revelou uma nova dimensão para a vida. Reconheci um novo mundo, o dos relógios, é esplêndido. Passei a ver a realidade de outra maneira. A minha sede de conhecimentos era grande; não era preciso me forçar a estudar; queria sempre mais e via que acontecia o mesmo com alguns colegas meus, éramos órfãos e jovens, prestes a ser adultos e ansiávamos a independência.
Neste momento Tenho 20 anos e uma namorada que amo e espero casar e ter filhos para dar a eles aquilo que nunca tive, pais. As vezes sinto algum ressentimento, é mais forte do que eu, os pais da minha namorada ainda estão vivos, ela ainda tem os seus pais e eu nunca tive, não percebo este sentimento que por vezes me domina, eu ate gosto dos pais dela, eles tratam-me muito bem. O que aprendi ate agora, com vinte anos, foi que é possível ser feliz mesmo que ainda sem pais, tudo depende de nós, não podemos culpar ninguém pelas nossas decisões e pelos nossos erros.
Tenho vinte anos e ao princípio o meu sonho era ter pais que me amassem, que me abraçassem, que me dessem carinho; desejo esse que ao longo dos tempos inevitavelmente se foi desvanecendo, desejando agora, ter um filho para poder amar, abraçar, dar carinho uma identidade, a minha… esta tudo nas nossas mãos, por isso desejo coragem e força, muita força, para lutar e vencer mesmo sem pais para nos apoiar, sim é possível e eu Adalmiro Rouxinol é prova de isso. A única coisa que tinha quando me encontraram foi um papel com o meu nome e venci mesmo assim. Sou um relojoeiro e independente e se eu fui capaz, apesar de alguns altos e baixos ao longo da minha vida vocês também são, lutem pelos vossos sonhos, contornem as rasteiras que a vida nos dá e acima de tudo sejam felizes que a vida é dois dias.


Adalmiro Rouxinol

A Loja dos chapéus


Tudo começou na vila lisboeta da Graça. Entre muitos vive a D. Eduarda Maia, uma senhora de “se lhe tirar o chapéu”. É uma bela e respeitosa senhora de 68 anos a quem o destino lhe tinha pregado a partida de a deixar viúva.  O senhor Francisco Maia, da mesma idade, faleceu faz agora vinte anos quando acidentalmente foi morto num treino do exercito português onde exercia a sua profissão. A sua morte nunca foi escondida embora para a D. Eduarda permaneça ainda muita ambígua. Desde o referido acontecimento que são notáveis algumas mudanças na D. Eduarda. Esta que vivia para os outros, transformou-se numa pessoa mais fria e intriguista. O seu único filho, o Tomás Maia, de agora 40 anos e solteiro estudou engenheira agrícola o que o levou a mudar-se para a sua área de trabalho em Beja, telefonando muito esporadicamente à mãe. Já lá estudava aquando da morte do pai o que o levou a que nunca mais regressasse a casa. Fisicamente esta é uma senhora bastante elegante para a sua idade. Veste-se sempre a rigor, não dispensa o seu chapéu e ai daquele que não saiba ser um bom crítico de moda.

A D. Eduarda nunca estudou embora se mantivesse sempre dentro do negócio dos seus pais o qual acabou por herdar -  a casa dos chapéus. Como própria diz: “vai dando para pagar as contas. Hoje em dia já ninguém liga a casas tradicionais... antigamente sim, era parte indispensável tanto de um bom homem de negócios como de uma senhora respeitada.” Além da sua chapelaria a D. Eduarda não dispensa o seu café matinal na Tasca do Jardim na companhia das suas vizinhas a Maria Alice e a Xícara das Jóias. Aprecia uma bela conversa com a vizinhança e não dispensa a utilização do seu dote para a coscuvilhice, apesar de tudo ainda “dá para atrair a clientela!”. 



A qualquer pessoa que passe não se contém em dizer: "Oh menino/a não vai um chapeuzinho?!".







Tudo isto só foi possível através da observação desta pedra. Uma pedra triangular, tamanho pequeno, cor bege, textura áspera que se assemelha muito a um chapéu de senhora! 


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Maria Alice a Lavadeira


Maria Alice nasceu dia 17 de Fevereiro de 1930 numa aldeia chamada Charneca do Milharado no concelho de Mafra. Ela era filha única, os seus pais eram pessoas do campo, trabalhavam desde o nascer ao pôr-do-sol. O seu pai chamava-se Joaquim, era conhecido por Quim, ele era moleiro, fabricava a melhor farinha da região. Já a sua mãe, Eugénia, era uma das lavadeiras da aldeia, lavava a roupa no rio, cuidando gentilmente da roupa da família e da roupa que lavava para fora de forma a trazer algum dinheiro para casa.
Durante a sua infância, Maria Alice acompanhava todos os dias a sua mãe na ida até ao rio, onde ficava a brincar com as outras crianças. Era uma criança alegre, sonhadora, divertida e disposta a ajudar os outros naquilo que precisassem. Os seus pais sempre lhe incutiram o valor dado à família, à educação e ao trabalho, desta forma Maria Alice foi uma das poucas raparigas na aldeia que tirou o 4ºano de escolaridade, aprendeu a ler e a escrever. 
No período da sua adolescência, Maria Alice era uma rapariga muito bonita e independente, sendo cobiçada por muitos rapazes na terra, no entanto, esta não se mostrava interessada por eles, pois não encontrava aquilo que procurava, o amor da sua vida. Nesta altura da sua vida, Maria Alice vive uma grande perda, a morte da sua mãe, que a deixou muito abalada. E desde aí que sentiu a necessidade de tomar conta do seu pai, da casa, e continuar com a actividade da mãe enquanto lavadeira no rio. Todos os dias Maria Alice, se dirigia para as águas cristalinas do rio e se juntava às outras mulheres para lavarem a roupa. As pedras serviam para esfregar a roupa e escutar as mágoas de quem se juntava à beira rio, para chorar as tristezas e matar a solidão. Durante a lavagem da roupa, Maria Alice cantava esta música de maneira a passar o tempo: 


“Água fria, da ribeira,
Água fria que o sol aqueceu,
Velha aldeia, traga a ideia,
Roupa branca que a gente estendeu.
Três corpetes, um avental,
Sete fronhas, um lençol,
Três camisas do enxoval,
Que a freguesa deu ao rol”

Com muito cuidado e selo esta tratava a roupa que recolhia no “rol” procedendo à sua lavagem e secagem ao sol. Posteriormente, entregava a roupa embrulhada numa trouxa às freguesas da cidade. Foi durante uma visita à cidade que Maria Alice conheceu o Francisco, um homem educado e simpático, dono de uma loja de fatos, com quem veio a casar e a ter dois filhos. 
Actualmente, Maria Alice tem 60 anos, e vive com o marido na periferia da cidade de Mafra. Os seus filhos emigraram para a europa em busca de novos horizontes e conhecimentos procurando um vida melhor. Maria Alice mantém a sua profissão de lavadeira, é a única lavadeira da cidade, no entanto mantém a sua rotina junto ao rio. Relativamente à sua aparência, os seus traços mais característicos são a face corada pelo sol e as mãos gastas pelas lavagens. É uma pessoa activa na realização das suas actividades, independente, simpática, honesta e não gosta de confusões. Na relação com os outros, tem maior afinidade com as pessoas da sua faixa etária e com as pessoas que conhece, sendo que na presença de desconhecidos é curiosa em saber o que fazem, no entanto, não aborda directamente os estranhos, limitando-se a observá-los atentamente sem dar nas vistas. Não apresenta tiques, não fala muito, mas é sociável.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

De Cascais à Reboleira...

A minha pedra é de cor preta, tem a forma de um losango, apresenta uma textura suave de um lado e áspera de outro, movimento irregular e um som baixo quando contacta com uma superfície/objecto.
Desta pedra surgiu, a minha personagem, o Martim de Castro. O Martim é um rapaz, actualmente, com 17 anos, que é filho de Bernardo e Anabela de Castro. É filho único, o seu pai é um empresário bem-sucedido, dono de uma empresa de telecomunicações, e a sua mãe não trabalha (nem nunca trabalhou). Viveu até aos 15 anos (2010) em Cascais, com a sua família, altura essa em que, a empresa do pai faliu. Nessa altura, a família de Martim viu-se obrigada a fazer uma mudança (radical) de estilo de vida. Esta mudança de estilo de vida, ou mais propriamente a perda do mesmo, vai de encontro à minha pedra no sentido de, faltar qualquer coisa, haver um vazio, representado a grande maioria das vezes pela cor preta.
Anabela, por estar habituada a um estilo de vida com algum luxo, e sem trabalhar, traiu o seu marido com um dos vizinhos e ficou a residir em Cascais. Por sua vez, Martim e o seu pai Bernardo, viram-se obrigados a mudar para um sítio mais pobre, devido a falta de dinheiro, e foi então que foram viver para a Amadora. Nessa altura, Bernardo arranjou um trabalho como camionista, o que o obriga a passar muito tempo fora de casa.
Martim, depois de abandonar o colégio privado que frequentava em Cascais viu-se obrigado a ingressar numa escola secundária pública. Lá, ele era gozado, maltratado, roubado, etc.. por ser considerado “o menino rico”, algo completamente fora do contexto de onde está inserido (Amadora). Durante algum tempo lutou para se integrar nesta nova e dura realidade e o único caminho que consegui arranjar foi de encontro com o lema “se não os podes vencer, junta-te a eles” e foi isso que fez.
Martim passou a ser um desses “rufias”/ “chungas”, começou a ser um rebelde e a tratar mal as pessoas tanto na escola, como fora dela. Mais uma vez, de encontro a pedra, Martim tinha um lado suave, ou seja, levava uma vida normal de um rapaz de 15 anos, simpático, amigo, etc.. e passou para um lado aspero, mudou totalmente o seu comportamento e passou a ser rude e mau. Um dos motivos que está na origem disto, para além do referido, é o facto de a sua relação com os seus pais ser muito escassa, o que lhe dá a possibilidade de fazer aquilo que quer sem quaisquer repercussões.
Actualmente, com 17 anos, e devido a estes comportamentos, encontra-se a frequentar o 10º ano, tendo reprovado já 2 anos. Nos tempos livres (ou seja, a maior parte do seu tempo, uma vez que, raramente vai as aulas), além de se preocupar em chatear/atormentar as outras pessoas, compõe músicas de Hip-Hop e é conhecido como “McBeach”, pelo facto de ter vivido em Cascais e perto da praia durante muitos anos. Um dos excertos de uma música que esta sempre a cantar, e que é muito famoso na zona onde ele vive, é:
“I'm rolling na Reboleira
Não tenho luxos
Mas sou rico à minha maneira
I'm rolling na Reboleira
Não tenho luxos
Mas sou rico à minha maneira”
Associado a minha pedra e a própria personagem surge também um animal, neste caso, um cão de cor preta, um pitbull. Esta escolha é clara, uma vez que, este tipo de cães, são considerados muito fortes, capazes de derrubar/vencer oponentes maiores que eles, e que se caracterizam, por isso, pela agressividade, vigor, robustez, etc.. ou seja, têm uma grande propensão para a agressividade, se confrontados com certas situações de tensão.
Eu digo que a escolha é clara pelo facto de o Martim/”McBeach”, ser um jovem que não gosta de estabelecer relações com os outros, de forma empática, apenas as estabelece como forma de se impor sobre alguém. Neste sentido, associo a minha personagem, ou seja, alguém que depois de ter passado aquilo que passou, se centra muito em si, no seu espaço, e que só invade o espaço dos outros para provocar o mal, um pouco como o pitbull. Os cães, neste aspecto, são um pouco como as pessoas, ou seja, em termos de personalidade também acabam por ser influenciados pelo meio, por muito que já possam nascer com umas diferenças entre si desde o início, ou com uma predisposição para um determinado temperamento.

O ANIMAL QUE EU SOU

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Novas andanças...

Olá, sendo a primeira vez que participo num Blog agradecia que me fosses ajudando por forma a familiarizar me com esta farramente, esperando que isto não me dê para aqui algum choque;)...
 
Obrigado